terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma Caçada no Destacamento do Loge

A Fazenda do Loge constituía um dos destacamentos da C. Caç. 3482. Ficava situada junto da margem do rio Loge a cerca de 30 Km da Musserra e a uns escassos 15 Km do Ambriz.
A fazenda era constituída por extensos palmares onde trabalhavam centenas de trabalhadores nativos.
A função do destacamento era a de proteger a actividade da Fazenda.As instalações onde os militares ficavam instalados pertenciam à fazenda e possuiam uma qualidade bastante aceitável. Isto fazia com que todos os pelotões gostassem de ali permanecer. Para além do mais era uma zona extremamente rica em caça.
Principalmente pacassas mas tambem javalis e veados. Isto possibilitava uma melhoria significativa do "rancho", já que o montante que se recebia por militar para garantir a sua alimentação, para pouco mais dava do que assegurar uma alimentação pouco mais do que razoável.
Quando se caçava, para além de permitir refeições de carne, sempre preferível às salcichas e ao atum, permitia um maior desafogo para o resto do mês, permitindo por vezes comprar frangos ou cabritos às populações locais, o que possibilitava diversificar a alimentação e constituia motivos de satisfação para todos.Lembro especialmente uma caçada feita pelo 1º. Grupo.
O Alferes saíu com dois Unimogs cada um deles com seis soldados. Os condutores eram o Gregório e o Rolo. Este último, barbeiro na vida civil, era muito cuidadoso na condução o que fazia com que fosse o preferido para conduzir a viatura onde o Alferes se deslocava.
O Gregório natural de Angola, era um autêntico acelera das "chanas". O seu gosto pela cerveja fazia com que eram raras as situações em que conduzia em plenitude dos seus cinco sentidos.
Era de madrugada quando o grupo detectou uma manada de pacassas, a uma centena de metros da picada Loge-Mussera. Os dois unimogs iniciaram de imediato a perseguição atigindo-se velocidades superiores aos 60 Km/hora.
O Alferes abateu uma pacassa ainda jovem, cuja carne se veio a provar ser da melhor que qualquer algum deles jamais havia tido o prazer de comer.Nesse dia foram mortas cinco pacassas, duas delas extremamente corpulentas o que impediu que pudessem ser colocadas nos unimogs à força dos braços. Usaram os guinchos dos unimogs para esse efeito. A estratégia foi a de passar o guincho pelos ramos fortes de uma àrvore, atar a extremidade aos chifres do "bicho" e por fim içá-lo com o guincho de um dos unimogs, enquanto o outro se colocava em posição de a receber. Nesse dia houve carne para toda a Companhia.
Fizeram-se "colunas" para abastecimento de carne. O Alferes conseguiu negociar com o "soba" da aldeia, a troca de uma pacassa por vinte frangos o que fez com que essa caçada ficasse ainda mais memorável.

1 comentário:

Oliveira, ex-Alf. Mil. disse...

Falaste no Gregório (o célebre condutor que sentia grande dificuldade em sair da tropa, pois acabava as "temporadas" sempre punido...) e não pôde deixar de vir à minha memória o dia (ou melhor, a noite) em que, vindos do Ambriz de regresso ao Loge, após o "autorizado" abastecimento de frescos (fomos à noite justamente porque era mais fresco...), atirou com o honimog (não se é assim que se escreve) que conduzia e me transportava, por uma ribanceira! Mas isto é história para outra oportunidade. Por agora, fica apenas o registo do acontecimento, aberto, claro está, para quem quiser apimentá-lo.
Oliveira